terça-feira, 9 de março de 2010

ARTE-VIDA CARIOCA

Eu sinto falta do Brasil, mais precisamente do Rio. Sinto falta das artes que minha terrinha tem. Aquela contruída pelo homem - saudade dos arcos da lapa -, aquela construída pela natureza - saudade da enseada de botafogo... Mas, do que mais sinto saudade é da arte humana. Da vida fazendo arte. Da arte-vida. Aquela que a gente encontra no suor no rosto de cada pessoa nas ruas. No brilho do olhar de cada brasileiro que não desiste nunca, mesmo que este brilho venha de uma lágrima que fica ali parada a todo momento esperando pra sair e que seu dono, orgulhosamente, segura. Na pele castigada pelo sol e pelo trabalho árduo e mal pago. Aqui ninguém sofre, aqui ninguém sente calor. Mas também, aqui ninguém brilha. E esse brilho não vem do suor, não vem do sol, não vem de jóias. Vem da alma. Vem da pele. A expressão "sem sal" cabe bem. A pele do brasileiro não é só salgada pela água do mar, mas pelo simples fato de ter nascido nesse país tropical abençoado por Deus e que, diga-se de passagem, é bonito por natureza. Aqui, os dentes brancos formam sorrisos amarelos, sem graça. Os olhos azuis nao possuem clareza. Acho que as pessoas não percebem isso mas eu, como boa latina-americana não posso deixar de reparar. E sinto muita falta...
As artes que vejo aqui são do tipo bem projetadas, milimetricamente calculadas advindas de muito dinheiro, inteligência e ambição. Muito perfeitas pro meu gosto, entende? Dariam belas fotografias para cartão postal. Mas as artes de que me lembro do Rio não são feitas por câmeras, mas por olhos. Olhos de quem todo dia pegava um ônibus para ir ao trabalho e viajava naquele forno por 3 horas, contornando toda a orla carioca. São olhos de quem antes queria ser cega e surda e, paradoxalmente, agora que já não pode ver nem ouvir, consegue enxergar e escutar tudo de belo que via e ouvia. O talento de um menino da Rocinha jogando futebol na praia de Ipanema, a criatividade na fala do ambulante tentando vender doces no transporte público, os diferentes tons de cores, de música, de tudo. A pluralidade infinita de personalidades. Aqui não existe gringo, não existe estrangeiro. Você ouve mil línguas de diferentes países só numa ida ao super mercado. E o que poderia ser interessante, torna-se normal. Ah, mas no Rio... no Rio as variações de uma mesma língua podem fazer você rir ou quase chorar de vergonha. Mas o que eu quero dizer, é que desperta reação.
A arte objetiva não me enche os olhos, não me traz nenhuma perplexidade, nenhum aperto no coracão. Me cansa. Mas a arte das milhares de coisas que podem acontecer num dia de uma vida carioca (ok, deixando o assunto de violência de lado) é o que me comove.

É, realmente, do que mais sinto saudade é da arte humana. Da vida fazendo arte. Da arte-vida. O que eu nunca vou encontrar aqui. Até porque, pra começo de conversa, que significado tem a palavra saudade para eles mesmo? ...

1 comentários :

  1. Mariana Bruce disse...

    Excelente seu post, Fefyx. Gostei muito, de verdade.
    É interessante porque estou vindo de outro extremo. Acho que a minha viagem não foi tão traumática porque de alguma forma estava me sentindo em casa, apesar da língua. É um povo muito parecido com o brasileiro. As coisas que você ia escrevendo, sobre o dia-a-dia carioca, me fez lembrar muito o dia-dia caraquenho. A música, o suor, o sorriso na cara, a luz, o calor.
    Esse nosso sangue é quente. É o que nós faz únicos nesse mundo. Somos a mistura perfeita das raças!
    Abençoados sejamos, hehehe.