quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

EUA 2

Sempre discuto com meu namorado americano sobre política. Ele odeia pelo motivo clássico: "nunca dá pra saber a verdade". E acho que esta é a única verdade sobre esse assunto. Os reais motivos para um guerra, por exemplo, nunca se sabe. Por mais que apareça na tv, nos jornais ou em livros, nunca se sabe. Toda vez que tento impor minhas idéias socialistas de que os EUA só tem dinheiro porque fazem guerras e se aproveitam delas, ele sempre rebate com: você sabe o motivo? Nós aqui achamos que estamos nos defendendo enquanto outros lá acham que nós atacamos primeiro... Onde você viu que somos culpados? Nas notícias?
E eu continuo com minhas convicções, afinal, como uma boa futura advogada não posso me deixar levar por qualquer argumento. Mas, no que eu sempre perco são exemplos. Na verdade, meus exemplos são do que eu li, do que vejo em fotos, do que eu soube pela mídia... Os exemplos que ele usa contra-argumentando são de experiência própria e esses eu não posso negar. Acho que muito da diferença daqui para os outros países "sub-desenvolvidos" é a família, a instituição primordial. Conversando com o meu sogro - ah! e essa é uma peça muito legal de se conversar e ver o lado de um capitalista conservador: sempre que ele se refere ao Obama é como "esse socialista, marxista talvez, quer acabar com o país" - dá pra perceber a importância da família para os americanos e que o país está aos poucos perdendo esse costume e ficando cada vez pior. Eu não sei se eu dei sorte com as famílias que conheci, mas eu vejo mais respeito aqui. De maneira geral, eu digo. É claro que é verdade que quem faz o serviço pesado aqui são os latinos. Quem trabalha em fast foods, serviços gerais e afins são na maioria mexicanos. Mas daí a ser escravizado, acho que é outra questão. O salário mínimo aqui são mais ou menos $7.25 por hora, assim dá pra calcular a "escravidão" que nós achamos que eles fazem com outros povos. E sendo sincera, se eu fosse americano teria uma certa xenofobia porque em todo lugar aqui as pessoas falam espanhol e muitas vezes erram seus pedidos por não entenderem o inglês direito. Mas enfim, não vi aqui até agora condições ruins de trabalho e nenhum latino reclamou até hoje pra mim do seu emprego, pelo contrário, todos preferem continuar aqui do que voltar para seu país de origem porque aqui "as coisas funcionam". Se você processa, você ganha efetivamente, não demoram anos e anos pra você ver a cor do "money" - se ver. A polícia funciona até demais, pobre do meu namorado que levou duas multas e teve que ir pra delegacia por não ter visto uma placa de "não vire à direita". Como ele mesmo diz, "não tem crime e esses policiais não tem o que fazer a não ser comer donuts e beber café". Mas, apesar de irritado, ele acha necessário porque se a polícia abre mão de um erro, poderá abrir mão de outros (o que acontece e muito no Brasil).
E pra falar a verdade, eu acho bonito o patriotismo deles. Meu namorado diz que o povo se sente abençoado por ter nascido aqui.

Mas não estou dando as costas pro Brasil com esse post, como disse anteriormente, considero o patriotismo bom de certo modo e eu não sou hipócrita do tipo de admirar e não fazer. Amo meu país. E até agora não vi nada comparado a beleza do Rio aqui. Mas, também não vi nada comparado à sujeira, à violência, ao caos...

PS: É por isso que eu amo essa música que ensejou meu blog, porque posso não ganhar nos outros argumentos contra os americanos, mas se tratando de guerra - apesar que ele sempre joga na minha cara a "nossa guerra civil de todo dia" - eu sempre consigo demonstrar que os motivos nunca justificam.

3 comentários :

  1. carolina pazos disse...

    Francamente Fernanda, deprimente como você está introjetando o "american way of life". A origem do patriotismo deles que você diz ser tão bonito é uma coisa chamada teoria do Destino Manifesto, uma coisa muita antiga e muito acreditada pelos norte-americanos. Consiste na crença de que eles são O POVO ESCOLHIDO POR DEUS para proteger as outras nações e, portanto, carregam uma missão civilizatória. Como vc deve saber, isso gerou um bocado de conflitos ao longo da história e serviu de pretexto para que eles comandassem uma série de intervenções absurdas em território alheio, especialmente na América Latina.
    Quanto ao fato deles se justificarem como "isso é coisa da mídia, os livros, etc" não passa de uma desculpa esfarrapada para defender o país deles, pois o resto do mundo já está cansado de saber o conceito americano de liberdade não pela mídia ou pelos livros mas pela experiência própria que vc está valorizando.

  2. carol pazos disse...

    Você deve estar achando tudo lindo e organizado e de fato é. Não tenho desprezo pelos Estados Unidos como país em si, mas como peça-chave do mecanismo internacional de exploração. A lógica do capitalismo consiste exatamente nisso: lugares bonitos e seguros com bons salários e outros podres e sem oportunidade alguma pois alguém tem que pagar o pato d,esse conforto todo. Não retiro nossa culpa pelo nosso próprio caos, só digo que é mto fácil de deixar levar por "modern conforts" enquanto deveríamos estar cultivando outros valores em vez de esburacarmos o planeta e reiterar a lógica competitiva capitalista onde definitivamente NÃO HÁ ESPAÇO PARA TODOS.

  3. fefiques... disse...

    Eu em nenhum momento deixei de falar que mudei minha concepcao. Eh disso que eu sempre falo com o Johnny: pra vc ser rico tem que ter um pobre. E ele nao discorda disso. Mas primeiro: nenhum pais eh bonzinho, que eu saiba o proprio brasil faz mt merdinha pela america latina. Segundo, o capitalismo eh o sistema em q vivemos e se ngm faz nd pra mudar alguma coisa (incluindo os proprios esquerdistas q sinceramente hj em dia sao os mais elitizados q eu conheco) infelizmente eh oq temos pra viver. E aqui eu nunca vejo ngm conversando sobre dinheiro, reclamando de dinheiro ou agradecendo o dinheiro sei la. Pela minha experiencia, as pessoas que eu conheco no Brasil pensam muito mais em dinheiro, sao mt mais capitalistas, pensam muito mais em negocios do que familia em comparacao aqui. A gente generaliza sem conhecer. Muitas familias que eu conheci aqui valorizam muito mais o amor e o respeito ao proximo. Ngm aqui fala que gosta de guerra, a maioria eh contra a guerra do iraque. Claro que tem excecoes como o proprio discurso socialista que pode virar um 1984 da vida, o discurso americano tem suas falhas. O equilibro eh o que deve falar mais alto, acredito eu.